Na semana passada, Nanda da série Os dias eram assim descobriu que tinha se contaminado com o HIV, vírus responsável pelo desenvolvimento da AIDS. O ano era 1984 e pouco se sabia sobre o vírus, a doença e o tratamento. A personagem interpretada por Julia Dalavia tem 19 anos e, naquele momento, recebia um diagnóstico difícil e pouco otimista.
No dia seguinte, a série Sob pressão, ambientada nos corredores de um hospital público brasileiro, trouxe o mesmo tema para a tela da Globo. Maicon, interpretado por Rafael Losso, leva sua esposa grávida ao hospital e revela um segredo ao Dr. Evandro: ele suspeitava que estava com o HIV. Sua preocupação era que ele pudesse ter transmitido o vírus para sua esposa e seu filho. Descobrimos que Maicon é soropositivo, mas o Dr. Evandro o consola e diz que ele pode viver uma vida normal se seguir o tratamento com os remédios anti-retrovirais disponibilizados gratuitamente pelo SUS. No fim, Maicon se tranquiliza e descobre que nem sua esposa nem seu filho foram contaminados.

Duas realidades completamente diferentes. Se nos anos 1980, o HIV era uma quase sentença de morte, em 2017, a perspectiva de vida de uma pessoa soropositiva é mais otimista. Mesmo assim, ainda precisamos continuar falando sobre a AIDS e o HIV. O preconceito e a falta de informação não contribuem para a erradicação da doença.
Segundo uma reportagem do Fantástico transmitida anteontem, 112 mil pessoas no Brasil tem o vírus e não sabem e mais 260 mil pessoas sabem, mas não se tratam. Ainda há um estigma sobre a doença que impede as pessoas de tomarem atitudes para se prevenirem, se tratarem ou simplesmente falarem do assunto. Uma das questões se refere à ligação entre a AIDS e a homossexualidade. Nos anos 1980, a doença ficou conhecida por apelidos como “praga gay” ou “câncer gay”. E isso permanece ainda hoje.
No Big Brother Brasil 10, Marcelo Dourado disse com todas as letras que “se a mulher tem AIDS e o homem não tem, ele pode transar com a mulher que ele não vai pegar”. E completa dizendo que heterossexuais não “pegam AIDS”. Na semana seguinte, a Globo precisou se retratar sobre o assunto explicando que não há relação alguma entre a doença e a orientação sexual das pessoas. E, bem, semanas depois, Marcelo Dourado foi escolhido como o ganhador dessa edição do reality. Parece que a declaração irresponsável do participante não afetou sua popularidade.
Um caso mais recente aconteceu no canal do youtuber gay Felipe Mastrandea que revelou ser soropositivo num de seus vídeos e recebeu uma série de comentários preconceituosos sobre sua sorologia.

Bem, eu imagino que não seja assim que as coisas devam ser resolvidas. Então, segura aqui na mão da mana e vamo falar de uns negócio importante. VEI, PRESTA ATENÇÃO!
a) Pra começar, é preciso entender que AIDS e HIV não são sinônimos. O HIV é o vírus causador da AIDS. Quando tratada, uma pessoa soropositiva (portadora do HIV) pode não desenvolver a doença. A ideia do tratamento é diminuir a carga do vírus que ataca o sistema imunológico;
b) Segundo o site do Ministério da Saúde, é possível contrair o vírus com: sexo vaginal, anal ou oral sem preservativo, uso de seringa compartilhada, transfusão de sangue contaminado, instrumentos não esterilizados e durante a gravidez, parto ou amamentação;
c) Também segundo o site do Ministério da Saúde, NÃO se pega o vírus com beijo na boca (YES), suor, lágrima, sabonete, toalhas, aperto de mão, piscina, banheiro nem masturbação a dois (vamo!).
d) Se você passar por alguma situação de risco (como violência sexual, sexo desprotegido ou acidente de trabalho com objetos cortantes), você tem o direito à PEP (Profilaxia Pós-Exposição). MAS O QUE É PEP? É um tratamento que precisa começar até 72h depois da exposição e os remédios evitarão a sobrevivência e a multiplicação do HIV. No Brasil, é um tratamento completamente gratuito pelo SUS.
e) Se você acabou contraindo o vírus, dedique-se ao tratamento. Como já disse ali em cima, o tratamento diminui a carga viral até ela se tornar indetectável. Já existem estudos que comprovam que é quase impossível uma pessoa com carga viral indetectável contaminar outra pessoa.
f) E, de acordo comigo mesmo, ame e apoie um soropositivo.
Já é difícil demais receber um diagnóstico complicado, fazer um tratamento rigoroso, com muitos remédios diários, com muitos efeitos colaterais e ainda precisar lidar com o preconceito. Esses obstáculos podem ser minimizados se receberem apoio da família e amigos.
Algumas pessoas ainda tratam o HIV com argumentos morais ou religiosos. Mas o HIV é um problema de saúde pública, que atinge cerca de 840 mil brasileiros. E desde o início do governo golpista de Michel Temer, o acesso aos remédios anti-retrovirais está mais difícil, como lembrado por Jean Wyllys. Nunca é demais mandar um: FORA TEMER!

É preciso falar sobre o HIV, conhecer a doença, saber como se prevenir e se tratar. E é preciso haver mais histórias de amor e esperança. Já assistimos muitos filmes com finais trágicos de personagens soropositivos, como Cazuza – O tempo não para, Clube de Compras Dallas e A Cura. Mas agora precisamos de histórias otimistas, que ajudem as pessoas a lidarem com o vírus: histórias de pessoas que tenham vidas amorosas e familiares saudáveis e que possam, assim como todo mundo, ter um final feliz.